Conheci a Tati – ou Tatiana Perius –
no iniciozinho de 2007. Eu estava pesando 40kg na época e, embora pros padrões
de editorial de moda isso fosse suprassumo, pra mim não era. Eu estava super
estressada e cheia de coisinhas chatas como ansiedade e afins, logo, emagreci
muito. Meu médico me indicou atividade física emergencial, era bom pro corpo e
pra mente, e minha terapeuta jogou a ideia ‘Gabi, porque não tenta Pilates?’.
Minha reação foi: ‘não seria Pilate ou Pilatos?’ Fui ao estúdio da Tati, que acabara de
ser inaugurado, aliás, acho que fui uma de suas primeiras alunas! A empatia foi
instantânea: me apaixonei pela atividade e pelo modo como a Tati me guiava naquilo. E eu de-tes-to academias: aparelhos mirabolantes, cheiro de suor, pessoas se
matando de correr-puxar-peso-pular-etc., enfim, ambiente estressante pra quem não
se sente a vontade com essas coisas. Eu ia ao estúdio 3 vezes por semana e em
duas semanas (não é mentira, tenho laudo médico pra atestar! Rs) ganhei 2kg de
massa magra! Foi a primeira vez que vi mini-músculos nos meus braços! A sensação
é deliciosa, já sentiram isso?
E esse blog é um espaço pra dividir
isso: a sensação gostosa de alcançar algo inspirada por alguém ou por si mesma.
A Tati me inspirou e me inspira até hoje, mesmo com toda a distância. Atualmente,
essa linda leonina reside em Brasília e, se eu morasse por aí, não perderia
tempo de procurá-la nem que fosse para um papo e um suco! Tati é autêntica,
gentil, graciosa inclusive nos puxões de orelha e conhece como ninguém os
caminhos que ajudam a gente a acreditar na própria força – muscular e de
vontade. Nessa conversa, Tati conta sobre sua
formação como instrutora da modalidade (na verdade ela nos dá uma verdadeira
AULA sobre o tema), sobre superação pessoal, gravidez, autoestima e, de quebra, deixa algumas dicas pra quem está interessado ou já pratica Pilates.
Já que segunda é dia internacional da dieta (quem inventou essa
tremenda besteira?), que tal começar a semana com uma entrevista inspiradora e
estimulante? Inspirem-se!
Antes de
mais nada, Tati, me conta como você descobriu o Pilates e quando decidiu que
era com ele que iria trabalhar? Como foi sua formação?
O universo Pilates entrou na minha vida de uma
maneira muita tímida, nos idos anos 2000, meu marido sofreu um grave acidente e
sua recuperação total levou um período de 16 meses, aproximadamente. Tínhamos
10 meses de casados, quando, por infelicidade do destino, ele foi atropelado.
Ele é triatleta, fazia seu costumeiro percurso de bicicleta, quando uma
caminhonete D-20 o pegou em cheio. Já podes imaginar o estrago? Enfim, ele
passou por 5 cirurgias e saiu de cadeira de rodas do hospital, fraturou todo
seu lado esquerdo.
Ficamos procurando os possíveis tratamentos
fisioterápicos mais eficazes, e dentro desses tratamentos, a resposta era
sempre: ‘só isso?’ Não conseguíamos atingir as nossas expectativas (...) e os
resultados eram muito pequenos. Os tratamentos sempre foram executados por
profissionais competentes, mas sabíamos que o corpo dele precisava de mais
estímulo.
Então li uma matéria sobre Joseph Pilates, um
senhorzinho simpático que criou uma técnica que mesclava várias outras como Yoga,
Ballet, meditação, artes marciais, etc. Há relatos de que ele recuperava
lesões em bailarinos profissionais, como a Martha Grahan, por exemplo. Isso me
chamou atenção, porque a leveza dos bailarinos e a força que essa profissão
exige não condizia m com os treinamentos convencionais.
Foi aí que começou o meu interesse, imagina, como
pode existir tamanha força e o corpo ser suave? Simples: isometria! Usamos ela o tempo todo.
Inclusive sem perceber, porque a ação da gravidade nos faz isométricos o tempo
todo. Meu marido começou a fazer e eu fui junto! (risos)
Depois da minha graduação em Educação Física na
Federal de Santa Maria (RS), investi 4 anos de formação em cursos que são
reconhecidos internacionalmente. Mas não conseguia ter a coragem para abrir um estúdio
próprio, foi preciso muita terapia com a Larissa [ps: eu e Tati íamos à mesma
terapeuta]! E muito trabalho corporal!
Você tem
uma energia super positiva com relação ao bem estar físico de quem trabalha com
você e isso é explícito! É contagiante ver a sua vibração e carinho ao
demonstrar cada exercício, cada postura e, claro, a confiança na sua explicação
do que está por trás de cada um deles. Você sempre teve essa atitude com
relação ao seu corpo ou isso foi algo
que você foi aprendendo aos poucos?
Digo, como foi pra você combinar o que você idealizava esteticamente pro
seu corpo e a adequação a ele?
Sempre gostei muito de esportes, mas não me
adequava àquele padrão fitness, nem tampouco em atividades da moda: aeróbica,
step, etc. Detestava aquele ambiente de academia, ficava envergonhada e não me
encaixava. Mas foi nesse ambiente que eu me identifiquei não com quem fazia as
modalidades, mas com quem fugia delas! (rs) Pensei “se eu me sinto estranha,
outros também podem se sentir assim” e bingo! Sem exceção, todos os meus alunos
durante os 8 anos que tive meu estúdio nunca me procuraram para deixar o abdome
trancado ou pensando em “quero ficar bem para o verão”. Quem me procurou com
essa intenção não permaneceu!
Quando tive o insight de que poderia ajudar as
pessoas através da força do nosso corpo, foi como um renascer pra mim. Cada
aluno buscava uma resposta corporal diferente, mas eu tinha um objetivo: fazer
com que o corpo falasse. Quando nos permitimos, escolhemos isso e abrimos
caminho pra que o corpo nos responda, a gente começa a entender sua função: não
sobrecarrega mais as articulações, adquire precisão de movimento, o que nos
permite poupar energia. A gente aprende a descobrir que o corpo tem suas razões
e que basta aprender os mecanismos para ouví-lo.
Nesse processo, fui percebendo que as alunas
ficaram mais bonitas, se sentiam mais adequadas com seus corpos. Entendiam que
não precisavam estar em busca de uma ideia corporal que não condizia com seu próprio
corpo. E isso foi se tornando o meu maior espelho. Sendo bem ilustrativa, acho
que desde que me conheço por gente fazia dieta, cheguei a pesar 56 kg na
faculdade, mas meu cabelo caiu, meu intestino não funcionava... E sempre me achava
enorme! Tenho 1,71m de altura e meu ideal de beleza era a Audrey Hepburn.
Imagina o tamanho da minha frustação!
Com dois filhos
lindos não tem como não perguntar isso: você praticava Pilates durante a
gravidez? Recomenda?
Quando engravidei nunca deixei de fazer
atividade física, mas (pausa para o choque) engordei 30 kg do meu primeiro
filho e 27kg da segunda (que nasceu prematura de 36 semanas), imagine se
tivesse ido a termo?!! My God!!
Engordei ao total [das duas gestações] o
equivalente a uma outra 'Tatiana' e sabe como consegui emagrecer? Juro que não vou ser
piegas e dizer que foi somente com o Pilates, não, não foi! Fiz dieta, corri muito,
mas foi a minha vivência no Pilates que me fez ver até onde eu poderia ir. Mesmo
acima do peso ainda tinha curvas (rs) e comecei a buscar meu melhor ângulo.
Exatamente igual ao ideal de uma 'selfie' quando buscamos nosso melhor ângulo. E
como se faz isso? Experimentando o que te faz bem. É aí que a Roda Gira e te
faz entender que o que te faz belo é o que o teu corpo te permite fazer e, se
você o faz, deve fazer bem!
Você é
super conectada na internet e bastante ativa em algumas redes sociais. Você
acompanha os chamados ‘perfis fitness’, que se multiplicaram no Instagram nos
últimos anos, ou ano?
Sou muito
otimista e curiosa, como toda leonina. Acho que devemos investigar tudo o que
nos estimula, mas também devemos ser criteriosos. Aquela velha história do “que
pode ser bom pra você pode não ser bom pra mim” está extremamente certa! Hoje tudo
está [mais] massificado. A dieta da moda, o exercício da moda, o cabelo, roupa,
sapato, bolsa, etc. Acompanho muitos blogs, dos mais variados assuntos e fico
muito preocupada quando vejo as propagandas não veladas, embutidas em mensagens
subliminares! Mas todos precisam ter seu ganha pão, não rotulo ninguém, mas
acredito que deveria existir um controle do que se coloca, como um Conselho de
Ética, talvez. Hum, não sei, isso é um assunto delicado e polêmico. Muitas
meninas jovens se deslumbram e as coisas podem fugir um pouco ao controle.
Quando
comecei o Pilates com você, lá no início de 2007, a coisa era toda inovadora,
quase ninguém conhecia a modalidade – com exceção da Constanza Pascolato que é
adepta há mais 10 anos! (rs) Com o passar de poucos anos o Pilates invadiu as
academias e estúdios começaram a pipocar em diversas cidades e regiões do Brasil. Que
mudanças mais significativas você percebe com relação ao que o Pilates se
pretende e aos usos que se tem feito dele desde que você começou a trabalhar na
área? Eu me refiro às ‘variantes’ que andei vendo por aí como ‘Power Pilates’ e
coisas do gênero.
O nome Pilates é muito forte, tão forte que
houve uma polêmica disputa sobre quem detinha o direito de “usar” a marca-nome
Pilates, foi quando um sábio disse que isso era universal, como natação é
natação, atletismo é atletismo, etc., mas existem as vertentes.
Os instrutores vivos atualmente, que tiveram
aulas diretamente com Joseph Pilates, pregam o Pilates autêntico. Já outros
grupos, também formados por instrutores educados por instrutores de Joseph
Pilates, formam um grupo que utiliza o método, mas o adequa ao uso de acessórios
e pesquisas para otimizar a biomecânica dos movimentos, estes são representados
no Brasil e no mundo pela Power Pilates e Balance Body, existem outros também,
mas os mais conhecidos são esses. Esse grupos são orientados por um órgão nos
Estados Unidos chamado PMA (Pilates Method Aliance) que regulamenta e normatiza
a ministração de cursos de Pilates oferecido pelo mundo.
Todos esses cursos buscam formar profissionais
que possam ministrar aulas em qualquer lugar portando uma espécie de
certificado, que é renovado mediante pagamento a cada dois anos. “Empreendorismo americano”, por um lado é bom, pois você trabalha com muita segurança, já que os
profissionais são treinados da mesma maneira; por outro é bem limitante.
Enquanto tive o estúdio, sempre fazia as reciclagens e, assim, me mantinha
segura. Mas é uma espécie de lavagem cerebral, se você sai um pouco daquele
protocolo não está sendo profissional. E isso começou a me levar para uma
insatisfação descomunal! Infelizmente, no Brasil, muitos
profissionais trabalham com Pilates de maneira irresponsável, acabam lesionando
muitas pessoas, porque não entendem que a premissa básica é a sustentação do
corpo pelo eixo de movimento, que nada mais é que a nossa coluna! Sem ela
perdemos nossa qualidade de vida. Por isso devemos pesquisar antes e muito bem
qual o currículo do professor e, além de tudo, ter afinidade, aquele feeling,
aquela conexão de ideologia.
A Constanza
(Pascolato) sempre diz em entrevistas que pratica Pilates há muito tempo e que
faz isso todos os dias, por pelo menos uma hora – todo mundo que a entrevista pergunta que atividade física ela faz,
é impressionante! Bom, não preciso nem dizer que ela está em excelente forma, o
que, claro, tem muito a ver com a disposição emocional e afetiva dela com
relação à sua idade e ao seu próprio corpo. Pra fechar, que dicas você poderia
passar sobre intensidade, quantidade ou modalidade de Pilates pra quem já
pratica ou quer praticar e tem a ambição (deliciosa) de se ver uma Constanza no
futuro? - Sonhar serve pra isso, não? Pra incentivar!
Constanza Pascolato, Diva-Deusa, Inspiradora!
Queria chegar na idade dela assim! (rs) Saber envelhecer, está aí algo difícil! Hoje a
beleza aparece por vezes tão extremada, por exemplo, aquele tipo “Síndrome de
Paniquete”, com aquelas pernas de jogador de futebol, pescoço de Stallonne, seios
de Dolly Parton... Enfim, tem quem goste! Pra mim, não existe coisa mais bonita
do que se sentir bem e Constanza é um exemplo disso! Muitos dizem que o Pilates
rejuvenesce, acho que sim! O corpo recebe uma dose extra de oxigênio. Quem sabe
está aí o segredo de Constanza!
Minha sugestão, para quem se identifica com o
Pilates, é tentar fazer o máximo de vezes possível, observando uma alimentação
saudável, se permitindo a ingestão de comidinhas e bebidinhas gourmets, mas sem
perder o foco! Almoçou feijoada, não vá comer pizza com os amigos de noite!
Simplesmente não dá! Tem que saber o que se come, tem que escolher o que se
come e tem que fazer sua comida. Não sabe, se matricula em cursos! Isso faz
toda a diferença na sua saúde. Quem está totalmente sedentário e vai começar
Pilates, mas só Pilates, tem de fazer pelo menos 3 vezes na semana; se
você é ativo pode fazer duas. Eu faço segundas, quartas e sextas e corro terças,
quintas e sábados. Fiquei em paz com a balança, estou com 65 kg e me permito
admirar minha barriguinha de dois filhos!
Que gostoso ouvir uma mulher tão à vontade ao falar do seu peso em números, não acham? Não existe prova maior do auto-conhecimento e conforto consigo mesma do que a falta de pudor numérico, peso, idade, etc. Rs!
Imagem: página pessoal da Tatiana no Facebook
O Pilates sempre foi uma curiosidade pra mim, mas nunca tive tanta vontade de experimentar quanto agora, depois de ler esse post! Muito inspirador, vou procurar uma academia de Pilates aqui perto de casa hoje mesmo :)
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