8 January 2014

'A beleza sempre me inspirou, (...) da forma que ela vier, de alguma maneira, guardo seus detalhes': Uma conversa com Bárbara Resende


Garance Doré (sim, ela) recentemente disse que 2014 será, pra ela, o ano do ‘underthinking’, isto é, do ‘pensar menos nas coisas’, do ‘relaxar e viver com leveza’. Eu gostei dessa resolução. Mas pra mim o ‘underthinking’ significa: pensar menos, fazer mais! Porém um fazer mais prazeroso, sem tantos medos, tanta pressão no ‘tem que dar certo’, mentalizando apenas o ‘vai dar certo’, mas no tempo que for. Pode parecer bobo e no fundo é, mas mudar o jeito de pensar é o primeiro passo pra gente aprender a lidar com pressão, estresse e essas coisas que atormentam nossa vida modernosa.
Pensando nessa positividade, nesse ‘fazer com leveza’, escolhi começar o ano no Gato com uma boa dose de inspiração e o pé direito! Em dezembro de 2013 (parece tão longe, né?) entrevistei, por e-mail, a jornalista de moda (super top) Bárbara Resende, que me concedeu esse ‘bate-papo’ com um super carinho e simpatia. Bárbara trabalhou em ‘criação especializada de moda, editando revistas, catálogos, sites e um guia de estilo’. Em 2008 fundou o Fashion Gazette, um blog de moda que é referência em estilo e interpretação de tendências nacionais e internacionais, com destaque pra essas últimas. Com textos criativos, bem escritos e cheios de um bom humor inspirador, Bárbara me encantou com seus layouts e re-leituras de tendências, o que me instigou a ir atrás e tentar um contato mais próximo. Nessa entrevista, Bárbara divide com a gente um pouco da sua experiência como jornalista de moda, como autora de dois blogs (!), o Fashion e o Living Gazette, seu encontro com a moda, o ‘boom de blogs’ da área no Brasil e suas inspirações.
Um feliz 2014 pra gente e, como sempre, espero que sintam-se inspirados! Esse ano promete!



Bárbara, antes de falarmos sobre os blogs e seu trabalho, eu gostaria de saber sobre como foi seu encontro com a moda. Ou como a moda te encontrou. O que na moda mais te fascinou (e fascina) a ponto de você ter escolhido essa área pra construir sua carreira? E, aproveitando o gancho, o que é a moda pra você?

A criatividade sempre me encantou, desde muito pequena, então foi fácil perceber que eu adorava desenhar, colorir, tudo que fosse visual e criativo. Fui criada em um sítio longe em uma cidade pequena de praia, então não tinha muito contato com grandes lojas, moda de rua, essas coisas. Meu contato foi com as revistas que meus pais assinavam e entre elas tinha as de moda e a Capricho. Na época minha mãe costurava (comprar roupas não era a coisa mais fácil nesse tempo) então acho que meu primeiro contato com a moda foi mesmo assim: revistas e roupas feitas pela minha mãe. E eu adorava escolher o tecido e o modelo que minha mãe ia costurar pra mim.

No seu perfil no Fashion Gazette você diz que a beleza ‘sempre norteou e inspirou seu trabalho’ e você passeia por alguns exemplos de onde encontra essa beleza: um quadro, uma roupa, uma fotografia, uma frase, etc. Beleza é um tema que me instiga bastante e eu tenho muita curiosidade de (tentar) entender como as pessoas enxergam beleza nas coisas. Então eu te pergunto, o que é essa beleza que te instiga? Que tipos de traços estéticos te fascinam a ponto de você os achar bonitos?

Eu gosto de tudo que é belo, eu admiro isso, gosto de olhar os mínimos detalhes, apreciar mesmo. E isso pode ser a arquitetura de uma cidade que estou visitando, um bom prato, um quadro, texto, layouts de revistas, desfiles de moda… não sei dizer o que me atrai visualmente; às vezes nem dá pra explicar porque tal coisa é bonita, simplesmente é. Apesar de ter uma base clássica, sou bem eclética: gosto de cores, do inusitado, do moderno, do misturado… difícil entender como nossos olhos se sentem atraídos por tal estética.

Aproveitando a menção ao blog, como você chegou à ideia do Fashion Gazette? O que mais te motivou a criar esse espaço? Você o via, desde o início, como uma extensão profissional ou você o criou sem pensar muito nesse aspecto?

Eu passei um ano sem trabalhar e quase enlouqueci, estava mais do que perdida, sem saber o que fazer. Aí em janeiro de 2008, eu que nunca tinha entrado em blog nenhum, conheci o blog da Maria Prata que tinha acabado de lançar. De lá, pelo blogroll dela, fui parar no Dia de Beauté e no It Girls: um mundo se abriu. Eu fiquei encantada com o material que aquelas meninas estavam fazendo, na época a Vic estava na semana de moda de NY, achei incrível, queria ser como elas. Aí enviei um e-mail para a Alê Garattoni e ela me respondeu! Aquilo foi valioso demais. Foi a empolgação que me faltava para menos de 2 meses depois, eu criar o meu (eu tinha na verdade criado um no ano anterior mas durou um mês e logo fechei). Queria dividir tudo que eu lia e pesquisava sobre moda, conhecer algum contato que pudesse me dar um trabalho nessa área. Essa era a ideia, de me distrair e tentar algum contato para um futuro trabalho.

Além do Fashion Gazette, você criou o Living Gazette, que é direcionado a área de design de interiores e decoração. Como é sua rotina criativa com os dois blogs? Você planeja pautas pra seguir e transformar em posts ou segue um fluxo meio não planejado de criatividade? A busca de inspiração e a criação de posts é muito diferente entre o Fashion e o Living Gazette?

Algumas pautas são planejadas, eu separo tudo que de alguma maneira pode servir para uma matéria e deixo para criar em cima depois. O Living é um trabalho, pelo menos até agora, mais sistemático pois é um blog de inspiração, então eu preciso encontrar fotos de casas e ambientes inspiradores. E eu sou muito chata com essa edição, por isso é demorado. Outra parte do trabalho do Living consiste em eu fotografar ambientes, sejam escritórios, casas, lojas. Já no Fashion Gazette é mais criar pauta e aí a pesquisa abrange muita coisa: sites, blogs, revistas, livros, programas de tv, novidades nas lojas, eventos… Meu sonho é ter um calendário de posts, com tudo planejado. É uma meta para 2014!

Você costuma fazer referência a muitos editoriais de revistas internacionais, Elle e Vogue UK, US, Espanha, etc., eu adoro acompanhar os textos do Fashion Gazette justamente por eles traduzirem de forma leve e inteligente um material que eu também acesso aqui fora, mas que ganha outro significado quando trabalhado nos seus posts. E pensando nessa ideia de adaptação e tradução de tendências, como é o seu processo de incorporação de tendências ou de traços de outros estilos ao seu próprio guarda-roupa, ao seu próprio estilo?

Eu me inspiro demais nas revistas, principalmente estrangeiras. Adoro os editoriais e sempre quero adaptar algo para meu guarda-roupa. Mas também tenho que levar em consideração meu estilo de vida: trabalho em casa maior parte do tempo, minha rotina é bem comum, mas ao mesmo tempo vou a eventos um tanto glamourosos e aí preciso estar bem arrumada. Junte-se a isso o fato de eu não dirigir, então ando muito a pé ou uso transporte público/táxi. Não é fácil conciliar isso tudo. Eu tenho roupa especificas para certas ocasiões, outras que transitam entre o dia-a-dia e algo mais especial e as da rotina. Difícil ser 100% um estilo só o tempo todo. Me adapto ao ambiente e ocasião. Mas adoro uma tendência, algumas eu sei que tem o meu estilo, outras preciso experimentar e ver se desisto ou abraço de vez. Já desisti de algumas que jurava que iam dar super certo. É assim, tem que provar, sair um pouco da zona de conforto e tentar não ligar tanto para o que vão achar. 

Fashion Gazette tem um layout diferenciado entre os blogs de moda brasileiros, isso explica em grande parte o meu interesse no blog como uma referência pessoal nessa área e como fonte de inspiração. Você criou toda a estrutura e o design do blog ou você contou com um web designer pra construí-lo?

Eu trabalhava com criação para clientes de moda na agência da minha irmã, então sempre gostei de ter esse cuidado com a estética. O último layout do blog eu que criei, me inspirando em uns 5 ou 6 sites que gostava. Um programador colocou tudo no ar.

Acho que uma das formas mais bacanas de feedback de um blog são os comentários, é conhecer, mesmo que de forma ‘desconhecida’, os leitores e a resposta imediata deles. Como você reage aos comentários? Costuma responder no próprio site ou por e-mail? Incorpora de alguma forma as chamadas ‘críticas construtivas’? Os comentários te inspiram de alguma forma?

Uma pena que nos dias de hoje os posts não tenham mais tantos comentários… adoro ler, saber a opinião das leitoras e geralmente respondo por e-mail. Tive pouquíssimos comentários bem críticos, é muito chato quando você vê que a pessoa ou não teve tato para falar o que pensa ou só quer mesmo te colocar pra baixo. Algumas leitoras me ajudaram muito com suas sugestões, outras viraram amigas de tanto que nos falávamos por e-mail. É uma troca importante.

Você costumar ler, seguir outros blogs de moda? Poderia dizer quais os mais frequentes e porque? Além dos blogs, você costuma se relacionar com outras blogueiras?

Sim, claro. Dos brasileiros gosto do The Fashion Hall (a dupla é muito chic sem esforço!), do Garotas Estúpidas (é rápido, tem um pouco de tudo), do Achados daBia (tem coisas lá que não vejo em lugar nenhum). Já os estrangeiros, gosto do Gary Pepper Girl, do Fashionata, do Honestly WTF… entro mais em sites como Vogue UK, The Coveteur entre outros. 
Conheci e convivi com muitas blogueiras na época que os blogs estavam começando a virar, em 2009. Geralmente nos encontramos em eventos e colocamos as novidades em dia. 

Em julho de 2013 você publicou um texto chamado ‘Boom de Blogs’ no qual desabafa um pouco sobre o ‘boom’ de blogs de moda nos últimos anos e reflete sobre o futuro dessas plataformas e sobre sua própria posição como blogueira. No texto você fala sobre o assunto como alguém que quer ‘instigar’ o pensamento sobre isso, sobre esse fenômeno que te pegou no laço, já que, como você mesma disse, você está no ‘meio do emaranhado’. Com exceções, esses blogs datam de cerca de 2007-2008 e essas ‘pioneiras’ da área no Brasil hoje contam com milhares de seguidores em diversas redes sociais e atingiram um patamar altíssimo de popularidade e comercialidade. Como você enxerga esse processo de ascensão dos ‘blogs de moda’? Você se vê como alguém que tem uma voz, que exerce alguma influência, inspiração em outras pessoas? – aproveito pra fazer essa pergunta de tom super pessoal justamente por ser esse tipo de pessoalidade que eu não consigo ver nos blogs e nas outras mulheres envolvidas na área.

Meu blog é peixe pequeno perto de tantos outros, de meninas que conheço e convivi, é estrondoso o sucesso que fizeram! Ainda é estranho quando encontro alguém e ela diz conhecer meu blog ou que alguma amiga procurou pra comprar uma peça que indiquei… como não é um contato pessoal com o público, fica mais difícil ter essa noção de influência. Gosto de ver que leitoras antigas, da época que comecei ainda visitam e me escrevem. Mas acredito que o público está mudando, não acesso tanto como antigamente… 

Também em julho de 2013, a revista Glamour Brasil fez uma capa só com blogueiras de moda; na reportagem que seguia o tema, Constanza Pascolato escreveu um texto interessante sobre a influência que essas meninas exercem e sobre a alta comercialidade das suas plataformas e da sua própria autoimagem. Pra Constanza ‘entre as blogueiras brasileiras há uma unanimidade de estilo e um minimalismo de diferença’. Hoje existe todo um aparato publicitário e comercial por trás desses blogs e isso salta aos meus olhos do mesmo modo que, acredito, tenha saltado aos seus, quando a gente vê sempre ‘os mesmos looks, as mesmas marcas, as mesmas it bags, poses e conteúdo’ (te citando), muitas vezes em layouts ruins, textos mal escritos, imagens repetitivas, etc.
Desde que você escreveu o texto, você refletiu mais sobre o assunto? O que achou dos comentários que recebeu de volta?

Gosto dos blogs de estilo pessoal internacionais porque são mais soltos na construção de looks e isso é cultural. No Brasil a roupa é para diferenciar uma classe da outra. No exterior, o estilo é mais relevante, não importa se você usa H&M, Zara, brechó ou Chanel. E blogueira virou uma tribo, por isso a semelhança de looks por aqui. Fiquei impressionada com os comentários - um dos posts que mais renderam nesse quesito - e ver que praticamente todo mundo que comentou pensa da mesma forma. É estimulador para tentar algo novo e diferente. 

Como você vê a cena da moda na região do Vale do Paraíba onde você costuma atuar? Você conhece outras blogueiras da região? Como a presença delas é sentida no mercado e na cena social da região? Pergunto por ser um contexto mais específico dentro do Brasil e por eu ter nascido numa cidade dessa região.

 Está melhorando. O mercado é quase inexistente, eu mesma desisti de trabalhar com isso aqui e aí criei o blog que ficou muito mais conhecido e teve muito mais aceitação com marcas, pessoas e empresas em SP, RJ que aqui. Meu foco não é a região, mas é uma área em ascensão. Ainda há muito trabalho a ser feito já que temos um polo industrial muito forte que influencia muito no comportamento e na cultura das cidades. 

 Uma questão que tenho sentido (e isso pode ser só impressão ou sensibilidade minha mesmo) é um pouco de impaciência com relação a quem criou blogs mais recentemente e isso tanto por parte de outras blogueiras quanto do próprio público que parece não ter muita paciência pra investir sua leitura em algo novo, partindo do pressuposto de que seja ‘só mais um blog de moda’. Como alguém que já tem experiência na área, você teria alguma dica inspiradora pra quem esta há pouco tempo no ramo?

Como blog virou um negócio dos sonhos das meninas, elas criam já pensando em ganhar dinheiro ou brindes. Mudou muito o mercado e é preciso ter credibilidade para chegar mais longe. E credibilidade demora um certo tempo para conquistar. Saem na frente quem já trabalhou ou trabalha nessa área pois ponderamos mais a opinião de quem conhece o mercado, vivência aquilo. Vá fazendo seu trabalho bem feito, as coisas acontecem, e hoje há mecanismos como facebook, instagram que ajudam a catapultar. 

Uma curiosidade boba, percebi que você gosta bastante de Londres e que já visitou a cidade. O que Londres tem de tão especial pra alguém da área de moda? É a ‘dita’ diversidade cosmopolita daqui? É a tradição e o investimento ingleses na área? A disponibilidade de marcas, designs, lojas? O que em Londres te fascina como uma profissional de moda?

Fui 2 vezes a Londres e me encantei pela cidade: a arquitetura, as artes e claro, o modo como as pessoas lidam com a moda. É a segunda maior indústria da cidade e por isso tem todo o apoio de governantes e empresas para grandes eventos na área. O que acho mais incrível é que você pode usar o que quiser, ninguém liga! É libertador! E a criatividade das lojas, as inúmeras opções, a moda mais acessível… um sonho!

Quais seus pontos favoritos da cidade? E quais lojas você diria indispensáveis pra quem passa por aqui e quer levar algumas compras pra casa?

Os parques são ótimos, os monumentos, os museus…a cidade toda tem muitos atrativos. E para compras, as feiras, brechós, Covent Garden, as grandes lojas de depto luxuosas e claro, Oxford Street e Regent Street. 

Você gosta muito de citações inspiradoras e usa isso de forma super criativa no seu blog. Pra fechar, poderia dizer uma delas que esteja te inspirando nesse exato momento?

 A que me vem à cabeça nesse momento é “Deus faz hoje, você entende amanhã.” 

 
Citações como essa você encontra pra se inspirar no Fashion Gazette!




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