Garance
Doré (sim, ela) recentemente disse que 2014 será, pra ela, o ano do
‘underthinking’, isto é, do ‘pensar menos nas coisas’, do ‘relaxar e viver com
leveza’. Eu gostei dessa resolução. Mas pra mim o ‘underthinking’ significa:
pensar menos, fazer mais! Porém um fazer mais prazeroso, sem tantos medos,
tanta pressão no ‘tem que dar certo’, mentalizando apenas o ‘vai dar certo’,
mas no tempo que for. Pode parecer bobo e no fundo é, mas mudar o jeito de
pensar é o primeiro passo pra gente aprender a lidar com pressão, estresse e
essas coisas que atormentam nossa vida modernosa.
Pensando
nessa positividade, nesse ‘fazer com leveza’, escolhi começar o ano no Gato com
uma boa dose de inspiração e o pé direito! Em dezembro de 2013 (parece tão
longe, né?) entrevistei, por e-mail, a jornalista de moda (super top) Bárbara
Resende, que me concedeu esse ‘bate-papo’ com um super carinho e simpatia.
Bárbara trabalhou em ‘criação especializada de moda, editando revistas,
catálogos, sites e um guia de estilo’. Em 2008 fundou o Fashion Gazette, um
blog de moda que é referência em estilo e interpretação de tendências nacionais
e internacionais, com destaque pra essas últimas. Com textos criativos, bem
escritos e cheios de um bom humor inspirador, Bárbara me encantou com seus
layouts e re-leituras de tendências, o que me instigou a ir atrás e tentar um
contato mais próximo. Nessa entrevista, Bárbara divide com a gente um pouco da
sua experiência como jornalista de moda, como autora de dois blogs (!), o Fashion
e o Living Gazette, seu encontro com a moda, o ‘boom de blogs’ da área no
Brasil e suas inspirações.
Um
feliz 2014 pra gente e, como sempre, espero que sintam-se inspirados! Esse ano
promete!
Bárbara,
antes de falarmos sobre os blogs e seu trabalho, eu gostaria de saber sobre
como foi seu encontro com a moda. Ou como a moda te encontrou. O que na moda
mais te fascinou (e fascina) a ponto de você ter escolhido essa área pra
construir sua carreira? E, aproveitando o gancho, o que é a moda pra você?
A
criatividade sempre me encantou, desde muito pequena, então foi fácil perceber
que eu adorava desenhar, colorir, tudo que fosse visual e criativo. Fui criada
em um sítio longe em uma cidade pequena de praia, então não tinha muito contato
com grandes lojas, moda de rua, essas coisas. Meu contato foi com as revistas
que meus pais assinavam e entre elas tinha as de moda e a Capricho. Na época
minha mãe costurava (comprar roupas não era a coisa mais fácil nesse tempo)
então acho que meu primeiro contato com a moda foi mesmo assim: revistas e
roupas feitas pela minha mãe. E eu adorava escolher o tecido e o modelo que
minha mãe ia costurar pra mim.
No seu
perfil no Fashion Gazette você diz que a beleza ‘sempre
norteou e inspirou seu trabalho’ e você passeia por alguns exemplos de onde
encontra essa beleza: um quadro, uma roupa, uma fotografia, uma frase, etc.
Beleza é um tema que me instiga bastante e eu tenho muita curiosidade de
(tentar) entender como as pessoas enxergam beleza nas coisas. Então eu te
pergunto, o que é essa beleza que te instiga? Que tipos de traços estéticos te
fascinam a ponto de você os achar bonitos?
Eu
gosto de tudo que é belo, eu admiro isso, gosto de olhar os mínimos detalhes, apreciar
mesmo. E isso pode ser a arquitetura de uma cidade que estou visitando, um bom
prato, um quadro, texto, layouts de revistas, desfiles de moda… não sei dizer o
que me atrai visualmente; às vezes nem dá pra explicar porque tal coisa é
bonita, simplesmente é. Apesar de ter uma base clássica, sou bem eclética:
gosto de cores, do inusitado, do moderno, do misturado… difícil entender como
nossos olhos se sentem atraídos por tal estética.
Aproveitando
a menção ao blog, como você chegou à ideia do Fashion Gazette? O
que mais te motivou a criar esse espaço? Você o via, desde o início, como uma
extensão profissional ou você o criou sem pensar muito nesse aspecto?
Eu
passei um ano sem trabalhar e quase enlouqueci, estava mais do que perdida, sem
saber o que fazer. Aí em janeiro de 2008, eu que nunca tinha entrado em blog
nenhum, conheci o blog da Maria Prata que tinha acabado de lançar. De lá, pelo
blogroll dela, fui parar no Dia de Beauté e no It Girls: um mundo se abriu. Eu
fiquei encantada com o material que aquelas meninas estavam fazendo, na época a
Vic estava na semana de moda de NY, achei incrível, queria ser como elas. Aí
enviei um e-mail para a Alê Garattoni e ela me respondeu! Aquilo foi valioso
demais. Foi a empolgação que me faltava para menos de 2 meses depois, eu criar
o meu (eu tinha na verdade criado um no ano anterior mas durou um mês e logo
fechei). Queria dividir tudo que eu lia e pesquisava sobre moda, conhecer algum
contato que pudesse me dar um trabalho nessa área. Essa era a ideia, de me distrair
e tentar algum contato para um futuro trabalho.
Além
do Fashion Gazette, você criou o Living Gazette, que é
direcionado a área de design de interiores e decoração. Como é sua rotina
criativa com os dois blogs? Você planeja pautas pra seguir e transformar em
posts ou segue um fluxo meio não planejado de criatividade? A busca de
inspiração e a criação de posts é muito diferente entre o Fashion e
o Living Gazette?
Algumas
pautas são planejadas, eu separo tudo que de alguma maneira pode servir para uma
matéria e deixo para criar em cima depois. O Living é um trabalho, pelo menos
até agora, mais sistemático pois é um blog de inspiração, então eu
preciso encontrar fotos de casas e ambientes inspiradores. E eu sou muito chata
com essa edição, por isso é demorado. Outra parte do trabalho do Living
consiste em eu fotografar ambientes, sejam escritórios, casas, lojas. Já no
Fashion Gazette é mais criar pauta e aí a pesquisa abrange muita coisa: sites,
blogs, revistas, livros, programas de tv, novidades nas lojas, eventos…
Meu sonho é ter um calendário de posts, com tudo planejado. É uma meta para
2014!
Você
costuma fazer referência a muitos editoriais de revistas internacionais, Elle e
Vogue UK, US, Espanha, etc., eu adoro acompanhar os textos do Fashion Gazette justamente
por eles traduzirem de forma leve e inteligente um material que eu também
acesso aqui fora, mas que ganha outro significado quando trabalhado nos seus
posts. E pensando nessa ideia de adaptação e tradução de tendências, como é o
seu processo de incorporação de tendências ou de traços de outros estilos ao
seu próprio guarda-roupa, ao seu próprio estilo?
Eu me
inspiro demais nas revistas, principalmente estrangeiras. Adoro os editoriais e
sempre quero adaptar algo para meu guarda-roupa. Mas também tenho que levar em
consideração meu estilo de vida: trabalho em casa maior parte do tempo, minha
rotina é bem comum, mas ao mesmo tempo vou a eventos um tanto glamourosos e aí
preciso estar bem arrumada. Junte-se a isso o fato de eu não dirigir, então
ando muito a pé ou uso transporte público/táxi. Não é fácil conciliar isso
tudo. Eu tenho roupa especificas para certas ocasiões, outras que transitam
entre o dia-a-dia e algo mais especial e as da rotina. Difícil ser 100% um
estilo só o tempo todo. Me adapto ao ambiente e ocasião. Mas adoro uma
tendência, algumas eu sei que tem o meu estilo, outras preciso experimentar e
ver se desisto ou abraço de vez. Já desisti de algumas que jurava que iam dar
super certo. É assim, tem que provar, sair um pouco da zona de conforto e
tentar não ligar tanto para o que vão achar.
O Fashion
Gazette tem um layout diferenciado entre os blogs de moda brasileiros,
isso explica em grande parte o meu interesse no blog como uma referência
pessoal nessa área e como fonte de inspiração. Você criou toda a estrutura e o
design do blog ou você contou com um web designer pra
construí-lo?
Eu
trabalhava com criação para clientes de moda na agência da minha irmã, então
sempre gostei de ter esse cuidado com a estética. O último layout do blog eu
que criei, me inspirando em uns 5 ou 6 sites que gostava. Um programador
colocou tudo no ar.
Acho
que uma das formas mais bacanas de feedback de um blog são os comentários, é
conhecer, mesmo que de forma ‘desconhecida’, os leitores e a resposta imediata
deles. Como você reage aos comentários? Costuma responder no próprio site ou
por e-mail? Incorpora de alguma forma as chamadas ‘críticas construtivas’? Os
comentários te inspiram de alguma forma?
Uma
pena que nos dias de hoje os posts não tenham mais tantos comentários… adoro
ler, saber a opinião das leitoras e geralmente respondo por e-mail. Tive
pouquíssimos comentários bem críticos, é muito chato quando você vê que a
pessoa ou não teve tato para falar o que pensa ou só quer mesmo te colocar pra
baixo. Algumas leitoras me ajudaram muito com suas sugestões, outras viraram
amigas de tanto que nos falávamos por e-mail. É uma troca importante.
Você
costumar ler, seguir outros blogs de moda? Poderia dizer quais os mais
frequentes e porque? Além dos blogs, você costuma se relacionar com outras
blogueiras?
Sim,
claro. Dos brasileiros gosto do The Fashion Hall (a dupla é muito chic sem
esforço!), do Garotas Estúpidas (é rápido, tem um pouco de tudo), do Achados daBia (tem coisas lá que não vejo em lugar nenhum). Já os estrangeiros, gosto do
Gary Pepper Girl, do Fashionata, do Honestly WTF… entro mais em sites como
Vogue UK, The Coveteur entre outros.
Conheci
e convivi com muitas blogueiras na época que os blogs estavam começando a
virar, em 2009. Geralmente nos encontramos em eventos e colocamos as novidades
em dia.
Em
julho de 2013 você publicou um texto chamado ‘Boom de Blogs’ no qual desabafa
um pouco sobre o ‘boom’ de blogs de moda nos últimos anos e reflete sobre o
futuro dessas plataformas e sobre sua própria posição como blogueira. No texto
você fala sobre o assunto como alguém que quer ‘instigar’ o pensamento sobre
isso, sobre esse fenômeno que te pegou no laço, já que, como você mesma disse,
você está no ‘meio do emaranhado’. Com exceções, esses blogs datam de cerca de
2007-2008 e essas ‘pioneiras’ da área no Brasil hoje contam com milhares de
seguidores em diversas redes sociais e atingiram um patamar altíssimo de
popularidade e comercialidade. Como você enxerga esse processo de ascensão dos
‘blogs de moda’? Você se vê como alguém que tem uma voz, que exerce alguma
influência, inspiração em outras pessoas? – aproveito pra fazer essa pergunta
de tom super pessoal justamente por ser esse tipo de pessoalidade que eu não
consigo ver nos blogs e nas outras mulheres envolvidas na área.
Meu
blog é peixe pequeno perto de tantos outros, de meninas que conheço e convivi,
é estrondoso o sucesso que fizeram! Ainda é estranho quando encontro alguém e
ela diz conhecer meu blog ou que alguma amiga procurou pra comprar uma peça que
indiquei… como não é um contato pessoal com o público, fica mais difícil
ter essa noção de influência. Gosto de ver que leitoras antigas, da época
que comecei ainda visitam e me escrevem. Mas acredito que o público está
mudando, não acesso tanto como antigamente…
Também
em julho de 2013, a revista Glamour Brasil fez uma capa só com blogueiras de
moda; na reportagem que seguia o tema, Constanza Pascolato escreveu um texto interessante
sobre a influência que essas meninas exercem e sobre a alta comercialidade das
suas plataformas e da sua própria autoimagem. Pra Constanza ‘entre as
blogueiras brasileiras há uma unanimidade de estilo e um minimalismo de
diferença’. Hoje existe todo um aparato publicitário e comercial por trás
desses blogs e isso salta aos meus olhos do mesmo modo que, acredito, tenha
saltado aos seus, quando a gente vê sempre ‘os mesmos looks, as mesmas
marcas, as mesmas it bags, poses e conteúdo’ (te citando), muitas vezes em layouts
ruins, textos mal escritos, imagens repetitivas, etc.
Desde
que você escreveu o texto, você refletiu mais sobre o assunto? O que achou dos
comentários que recebeu de volta?
Gosto
dos blogs de estilo pessoal internacionais porque são mais soltos na construção
de looks e isso é cultural. No Brasil a roupa é para diferenciar uma classe da
outra. No exterior, o estilo é mais relevante, não importa se você usa H&M,
Zara, brechó ou Chanel. E blogueira virou uma tribo, por isso a semelhança de
looks por aqui. Fiquei impressionada com os comentários - um dos posts que mais
renderam nesse quesito - e ver que praticamente todo mundo que comentou pensa
da mesma forma. É estimulador para tentar algo novo e diferente.
Como
você vê a cena da moda na região do Vale do Paraíba onde você costuma atuar?
Você conhece outras blogueiras da região? Como a presença delas é sentida no
mercado e na cena social da região? Pergunto por ser um contexto mais
específico dentro do Brasil e por eu ter nascido numa cidade dessa região.
Está
melhorando. O mercado é quase inexistente, eu mesma desisti de trabalhar
com isso aqui e aí criei o blog que ficou muito mais conhecido e teve muito
mais aceitação com marcas, pessoas e empresas em SP, RJ que aqui. Meu foco não
é a região, mas é uma área em ascensão. Ainda há muito trabalho a ser
feito já que temos um polo industrial muito forte que influencia muito no
comportamento e na cultura das cidades.
Uma
questão que tenho sentido (e isso pode ser só impressão ou sensibilidade minha
mesmo) é um pouco de impaciência com relação a quem criou blogs mais
recentemente e isso tanto por parte de outras blogueiras quanto do próprio
público que parece não ter muita paciência pra investir sua leitura em algo
novo, partindo do pressuposto de que seja ‘só mais um blog de moda’. Como
alguém que já tem experiência na área, você teria alguma dica inspiradora pra
quem esta há pouco tempo no ramo?
Como
blog virou um negócio dos sonhos das meninas, elas criam já pensando em ganhar
dinheiro ou brindes. Mudou muito o mercado e é preciso ter credibilidade para
chegar mais longe. E credibilidade demora um certo tempo para conquistar. Saem
na frente quem já trabalhou ou trabalha nessa área pois ponderamos mais a
opinião de quem conhece o mercado, vivência aquilo. Vá fazendo seu
trabalho bem feito, as coisas acontecem, e hoje há mecanismos como facebook,
instagram que ajudam a catapultar.
Uma
curiosidade boba, percebi que você gosta bastante de Londres e que já visitou a
cidade. O que Londres tem de tão especial pra alguém da área de moda? É a
‘dita’ diversidade cosmopolita daqui? É a tradição e o investimento ingleses na
área? A disponibilidade de marcas, designs, lojas? O que em Londres te fascina
como uma profissional de moda?
Fui 2
vezes a Londres e me encantei pela cidade: a arquitetura, as artes e claro, o modo
como as pessoas lidam com a moda. É a segunda maior indústria da cidade e
por isso tem todo o apoio de governantes e empresas para grandes eventos na
área. O que acho mais incrível é que você pode usar o que quiser, ninguém liga!
É libertador! E a criatividade das lojas, as inúmeras opções, a moda mais
acessível… um sonho!
Quais
seus pontos favoritos da cidade? E quais lojas você diria indispensáveis pra
quem passa por aqui e quer levar algumas compras pra casa?
Os
parques são ótimos, os monumentos, os museus…a cidade toda tem muitos
atrativos. E para compras, as feiras, brechós, Covent Garden, as grandes lojas
de depto luxuosas e claro, Oxford Street e Regent Street.
Você
gosta muito de citações inspiradoras e usa isso de forma super criativa no seu
blog. Pra fechar, poderia dizer uma delas que esteja te inspirando nesse exato
momento?
A
que me vem à cabeça nesse momento é “Deus faz hoje, você entende
amanhã.”
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