27 November 2013
25 November 2013
& Other Stories
Essa semana
andei preparando mais um texto para o blog da Cris Bedendo e, aproveitando esse
clima quase natalino (já?!!), o texto será sobre dicas de compras aqui em
Londres. Como são muitas opções e temas pra um post desses, eu separei por
categorias, a primeira é sobre ‘beleza’ (os nossos ‘beauty halls’ daqui), não
deixem de conferir em breve!
Mas
aproveitando esse embalo de dicas e experiências de compras por aqui, achei
bacana dividir uma ideia com vocês que, acreditem, vale muito a pena.
Há menos de
um ano o conglomerado fashion que é dono das marcas H&M e COS (entre
outras) lançou outra ‘marca’ dentro do seu enorme guarda-chuvas fashion: a & Other Stories. Sim, isso mesmo,
nome bem fantasioso e meio longo, mas perfeito pro conceito da marca.
Vocês já
devem ter ouvido falar e feito muitas comprinhas na H&M, que é bem
queridinha das brasileiras em suas viagens. A & Other Stories segue na linha da H&M apenas no quesito
‘minimalismo e geometria escandinavos’ (quando a H&M resolve voltar as
raízes, convenhamos, ela anda meio tendenciosa demais). A marca não tem apelo
popular no sentido ‘trending’, não repete ‘inspirações’, mas trabalha com
conceitos bem próprios. Os preços são levemente mais altos, porém super em
conta para a qualidade, o design e o conceito das peças, que são incomparáveis!
Os sapatos são todos em couro, super bem trabalhados, o único problema é que o
menor tamanho europeu na escala deles não cabe direito em mim... **suspiros**
Tenho apenas uma sandália que, felizmente, me caiu como uma luva e foi super
usada no verão. As bijux são demais! Todas carregadas nos traços geométricos e
na brincadeira com pedras e pontos de luz, algumas super delicadas, outras mais
na linha ‘statement jewellry’. E as peças em tricô e as camisetas de algodão?
**mais suspiros**
As bolsas
também são um detalhe à parte: quase todas são em couro, mas um couro leve A
marca também possui seus próprios cosméticos que vão de maquiagem e
seus acessórios (nunca usei, mas tenho alguns esmaltes e são excelentes, clique aqui para ver as cores, são lindas)
a produtos para corpo e rosto, eu tenho um creme para o corpo à base de figo
que é ótimo e super perfumado, sem ser enjoativo, se me entendem. Além deles, lá você também encontra 'beauty treats' da Eyeko, This Works, entre outras.
Ih, já
viram que não tenho muito o que criticar, né? Selecionei algumas imagens do
próprio site (clique aqui pra visita-lo) e algumas do meu acervo pessoal.
A loja
possui uma única flagship em Londres,
que fica no 256-258, Regent Street, bem próxima da esquina com a Oxford Street
(metrô mais próximo é Oxford Circus).
Se tiver
viagem marcada pra cá e estiver a procura de coisas novas e bonitas e
inspiradoras, não deixe de incluí-la em seu roteiro!
!!! |
Faux Fur em mescla preto-azulado. Demais! |
As embalagens sāo super minimalistas e delicadas. |
Esse anel... Esse jumper em angora... |
20 November 2013
Tempted!
Quando eu morava no Rio, costumava
frequentar um café bem legal chamado Cafeína. Eu costumava pedia um cafezinho,
porque ele sempre vinha acompanhado de um biscoitinho que mais parece um bolinho
chamado Financier de Nozes. De vez em quando, confesso, eu comprava o pacote
inteiro pra comer em casa acompanhando meu próprio café.
Financier de Nozes, Cafeína. |
Há certas coisas, especialmente as
menores e mais singelas, que fazem a
gente matar uma grande saudade de casa e eu recentemente descobri uma
delas, quase Proustiana. Há alguns meses encontrei um biscoitinho (na verdade
bolinho) na pâtisserie da Harrods que me fez matar essa saudade. A marca,
Tempted (nome sugestivo, não?) é inglesa e especializada em alimentos sem glúten
(thumbs up!); eu comprei o pacotinho
confiando apenas nos meus olhos. Dito e feito! O bichinho tem um gosto
maravilhoso (muito maravilhoso)! Semelhante ao que eu comia no Cafeína, porem
mais saudável, mais leve e bem mais saboroso.
Quem diria que matar a saudade pudesse
se tornar mais saboroso que o próprio sabor dessa saudade!
'Financier' de nozes e chocolate da Tempted. |
Se você tiver viagem marcada pra cá (Londres) e a Harrods estiver no seu roteiro, não deixe de visitar os Food Halls no primeiro andar da loja. Há algumas guloseimas que vale muito experimentar. Além dos docinhos da Tempted (que são quase sazonais, não é sempre que a loja recebe), a parte de salgados é uma delícia a parte: o restaurante de dumplings vale uma visita e na parte central, que vende pequenos quitutes árabes, existe um kibe de abóbora recheado com lentilha que... Que... **suspiros**. Fica aqui uma dica apetitosa!
Cosy cosiness #2
O frio está ficando sério por aqui. Visitem o perfil do My Little Paris no Facebook para verem mais dessas ilustrações super delicadas e inspiradoras!
The cold weather is getting serious around here. Check out My Little Paris page on Facebook for more of these delicate and super inspiring images!
17 November 2013
Playing cards with Matilda Temperley (English version)
Since I moved in to London, actually since
last year, I developed an increasing fascination for people who can live
between two work careers or for those who took the challenge of changing areas
radically. If you’ve read my posts before you might have noticed that I love
things that get me inspired, but mostly inspiring people, and I’m not talking about those famous or iconic
people, ok? I’m talking about real life people, those with whom we can have a
proper chat in a café, a bar, a pub, or even just exchange virtual messages
without feeling reticent.
That are so many different kinds of blogs on the web is
a fact. Many people read them in search of information, stating they couldn’t
care less about other people’s opinions. I’m not one of those. I look for blogs
that can bring some sort of inspiration to my day, it can be inspiring on the
way I can dress, or the way I look at an art object or exhibition, a book etc. Blogs are
written in the first person, one should never forget about it, even when the
platform has many collaborators.
Recently I caught myself wondering about
inspiring people around me and I, happily, realised I actually know many
inspiring people. So I decided to interview them! (feeling like a journalist here…) So that’s more or less the context behind this and future interviews
posted on my blog. I guess that, in a world so full of blogs, bloggers and
self-promotion discourses, we tend to get a bit too obsessed with a few
specific people, mostly those who are constantly exposing themselves to us,
that we might end up not looking around and seeing that inspirational people
can actually be just on the next door or neighbourhood, and people who’ll be genuinely willing to share affection and have actual dialogue with us. (I’m a bit
frustrated about contacting people I once judged inspiring and then finding out
they were actually more obsessed with their mirrors than anything else)
In this context of searching for down to
earth inspirational people, I encountered Matilda Temperley, an English
photographer living in London. I met her in a friend’s birthday dinner and felt
instantly amazed by our conversation and her voice tone. Raised in an idyllic
cider farm in Somerset, Matilda bears with her an almost bucolic air in her
delicate features and the delicacy with which she tells her stories. I met her
about a month ago to chat about her career changing from Sciences to
photography, her inspirations, the loneliness of having to work on
a computer and her (enchanting) lack of pairs of shoes.
Hope you all feel inspired!
In a
pub in Camden
Gabi: So tell me a bit about the career you were in before you decided to become a photographer.
Matilda: So, I studied Sciences probably because I was quite good at this, it
was just something that came naturally to me. I always thought I wanted to
do creative things, study Art… Then when I was at college all my art work was
stolen from me, it was quite a weird character (he stole all my things) and I
just stopped doing anything and concentrated on the science… Also my family was always telling me
to do something academic, there was no other rout apart from doing
something academic…
G: But you always had that with you, that
you loved arts?
M: Yes, well, when I got my first degree in
Sciences I got the highest degree, so when you do well you just keep doing it,
I didn’t really know what I wanted to do, so I went on and I did my masters in
Tropical Diseases… I find tropical diseases completely fascinating, and I loved
the learning and I loved the knowledge, but actually when it came to the practical
side it’s quite a lot about statistics… It wasn’t as fun as other jobs could
be. I was just young, at that time I just wanted everything, I wanted to see
everything, and feel everything, I was working on my own a lot in Africa, and
the work I did was very specific, it was quite a lonely job. So I had a few bad
experiences in over two weeks in Africa, and I always knew I wanted to try
something else; whenever I reflected about what I wanted to do in life I always
ended up thinking about what I wanted to do as a child and I always loved
photography. I never thought it was a proper career, never thought it could
make money… And I always wanted to be a trapeze artist! So when I was in
Africa, and I had a few dodgy experiences, too many, I just thought ‘what am I
doing here?’. I came back and I quit my job in Uganda, I was in a hurry…. I had
already got a camera and I would always really be working with my camera all
the time, cause I always thought you could tell a fastest story with a camera
then with Science, it’s not actually true, but at the time that felt true cause
you take some pictures and you show somebody and that looks very
understandable, in Science it might take a year doing the same thing…
Definitely not true, but at the time I thought it was. So I thought I was going
to do that. I was going to photograph things, photograph tropical diseases, it
would be the same sort of thing but I would be telling a story in my terms, and
faster.
G: In practical terms, how did the change
happen?
M: I moved back to London and I started
thinking ‘ok, so I’m going to be a photographer’, but I was a scientist and
that was something I carried on for a couple of years. I’ve decided to go and
assist people, I assisted some photographers, I did a day here and there, I thought
photography was something that I could pick up, something that just would come…
I was very lucky to be given grant by the Arts Council in the beginning to do a
big exhibition about circus, and by the meantime I was training by the trapeze
and I practically started to get hired (…), instead of saying ‘no’ I said ‘yes’.
I asked for help from other professionals, so I literally just practiced and I
always thought ‘who am I interested in’, I always thought about dancers. I love
dance! So I got some dancers, they would come and dance, so I just photographed
things I loved until eventually people started paying me to photograph things I
love. [Laughs] Then I’d take some other jobs that came in my way, but now I can
be a bit more selective. But it’s taken a few years to be like this, because I
was so impatient at this time I didn’t want to stop, so I was already in a
proper career… I probably would have learned more if I had assisted someone for
a year, but I was very impatient at the time…
G: Speaking of being impatient, I’ve been
in the academic area for 7 years, and I’ve never done anything else, so
whenever I want to try something different I want fast results, I want things
to happen in a kind of fast way. Did you feel this kind of anxiety when you decided
to change?
M: I had a lot of anxiety, it was the most
pressured thing I’ve ever done, giving up this job that I’ve worked through my
life to go and do something unstable. When you studied for so long, when you’ve
been in Academia and you try something new you kind of feel pressured by age, I
think, and when you start out you expect to be eight years after the time
you’re actually in… It’s quite hard in the beginning, I think, I was quite
naïve, I thought everything would happen really fast just if you work hard…
G: So how long has it been since you
switched areas completely?
M: 2007, I think, so five and a half years.
G: And how long did you spend in Academia?
M: Not very long. Obviously I did my
undergrad, then my masters and then I worked for a couple of years… I was kind
of spoiled cause I started working right after I finished my masters, so I
didn’t have to, you know, climb the ladder.
G: Looking at your work I see the human
body at the centre, right? Cause the body’s everywhere, in all shapes, kinds,
oddness, beauty…
M: Yeah, I think. I love the circus and at the
same time I was becoming a photographer I did trapeze, I broke so many bones,
and so many bits in my body, so I was too old, definitely too old to be
starting that. I’ve always had friends in the circus because I’ve always loved
the circus, I love the physicality of it, so I think it [the body images] comes
from there. I like extraordinary people, I like to understand why people do
what they do or live like they live, where they come from; it’s extraordinary
the kind of body modifications that they do, just how they wear their hair
etc., and the commitment of people in London to completely change their bodies.
See, one of the girls I photographed she transgendered, she’s tattooed her own
eyeballs black, she’s got horns, she’s changed everything in her body that she
could change, to understand the psychology of that is what makes photography
interesting, why people look like the look… The photography, especially the
Human Zoo Project, is about the stories these changes can tell…
As a photographer I’m interested in unique
people, I think.
G: And what is your relationship with
beauty? I mean, standardised, normative, western idea of beauty we’re exposed
to.
M: I would love to be a documentary
photographer, that’s why I ever entered into photography, but I’ve realised I
can’t ever be a documentary photographer because I don’t want to capture things
necessarily as they are, I always want to look for beauty in things, that’s a
slightly different thing. I feel more like I want to portrait everyone in their
best sense. One of the most important things for me when I take a portrait of someone is that they have to be happy with that image, because you’re taking a
bit of them, I feel like you have a responsibility certainly to show someone’s
character or express that beauty. So I don’t think I have a sense of beauty I
can reckon.
G: And how do they respond to your images?
M: Really well!... People generally react really well; I think I
haven’t had a negative reaction yet. But if I don’t bond with someone then I’m
less inclined to take the photo.
G: How do you know you connected with someone?
M: When someone comes in you have sort of ten
minutes to find some sort of common ground, you have ten minutes to assess each
other and it’s very intense photography, because you’re one/one. With some
people you just don’t have that connection, I have an emotional attachment to
make the images so I wouldn’t like I because I hadn’t an emotional attachment
to it. One of my subjects an amazing guy, he came in for ten minutes and we had
such a great bond! Also you can ask anything to someone when they come in to
show themselves, not in fashion,
this is just in portraits, fashion is something totally different. They are
very open up, they let you, photographer, be a kind of voyeur, so they open up
about their lives.
G: Speaking of job, you also work with
fashion, right? What is your relationship with fashion?
M: My sister is a fashion designer [Alice
Temperley from Temperley London] so I’ve always been aware of it. Am I
interested in it? Not so much. I kind of appreciate the beauty and I can
actually appreciate clothes, but does it inspire me and do I get excited about
it? Not really. Unless I’m doing a job, then I’d really enjoy the job, I would
get inspired and I’d switch it on. But I’m always a massive scruff bag, I
couldn’t care much about fashion at all. And that’s that, I’m not someone who’s
inspired by fashion. But if you give me a model and some clothes then I’ll be
inspired to make the most beautiful image I can make out of that, the most
interesting image.
G: And it’s a totally different setting, I
mean, the sensitivities that you have to access to photograph a model…
M: The difference is for a portrait you
want to get into someone psique, well that actually sounds really pretentious,
but you really want to see them and who they are and their body; when you’re
using a fashion model you don’t want to see who they are, you want to use them
as a blank canvas, then you make them whatever you want to make them, you want
to use them to represent something else. That’s the main difference.
G: Did your relationship with the subjects
you’ve photographed, the circus project, the portraits, affect in any way your
relationship with your own body?
M: I’d like to say ‘yes it got me really
inspired to get fit’ and I constantly feel very inspired to get very fit, but
I’m very good at braking bones. Last year I broke my knee really badly, just
had an operation on it again, the year before that I ripped my hip so I had an
operation on that, just before that I broke some ribs, so I’m always injured.
But I’d love to get back on the trees, I’d like to be able to dance, which is
why I like to look at other people dance. I think I‘ve become more aware of
looking after my body and maybe that’s also what inspires me to look towards
people that have an incredible physicality.
G: Tell me a bit about your latest exhibition
here in London, with the cards.
M: I just did a pack of cards with an
agency called Ugly, they’re sort of little portraits of the models’ physical
diversity, they’re sort of fashion models but they represent everyone. And
they’re called Ugly, that’s not to say that any of the pictures is ugly, but
it’s just a really nice project celebrating diversity.
G: I’d image you’d always be surrounded by
people because if your work, right? One of my major issues with my PhD is that
I end up all by myself most of the time, because I need to read, think and
write…
M: But, you know, being a photographer is
not really as sociable as you’d imagine it to be. You’re not photographing
everyday, you spend a lot of time alone in the office, I think people
underestimate how much time is taken doing all of the editing and all of that stuff.
You do spend a lot of time in your computer. I think I’d spent more time with
people as a scientist, you know, you’re talking to your peers, you’re reviewing
things, you have fieldwork…
G: Well, I don’t actually have fieldwork in
my area, I don’t have a lab so I don’t have people to talk to! [Laughs]. I find
it quite challenging to socialise at the university, the academic politics
itself doesn’t allow us to be very sociable; as PhD students we don’t have
classes (that we have in Brazil) and when I try to socialise with some
colleagues it feels as if they were somehow indifferent or even unaware that
socialising is a fun thing!
M: Yes! And that’s somehow one of the reasons
why I decided to leave Sciences. Because I thought [in photography] it was
going to be more social and I was going to be able to see more and faster, in
some respects that’s true, but in other respects it’s not. In other respects
I’m my own boss, I can do what I want, when I want, I work longer hours because
I’m a freelance, I’m doing twice the money I was doing as a scientist, because
I got crazy and worked a lot, but I’m not that social, you know. Yet it’s much
more computer heavy then you realise, so I think maybe the grass is always
greener… But, yes, one of the reasons why I left Sciences is because it was a
lot of lonely work, especially when I was in the field.
G: I can imagine. I often catch myself
feeling very lonely cause it’s part of the job; it’s necessary. That’s one of
the reasons I decided to create my blog, cause even though I’m still on the
computer I can actually talk to people about things they can understand and
they can actually bond with me.
M: Yes! You see, that’s the same with
photography, even though I’m working on my own, people can actually have a
reaction to that; with what you are doing as a PhD and with what I did as a
scientist there’s only a few people with whom you can actually have a
conversation about it cause it’s so specific…
Back
at the office
G: [Asking her if I could take some pictures]
I’m really into black & white pictures lately, I think they make my photos
look more elaborated. [Laughs] Do you think a good image relies more on the
equipment – setting, lighting, model, subject, and landscape – or on the
photographer?
M: An exceptional picture relies on the
photographer; a good picture relies on the camera. [Laughs]. It’s actually
half/half. I’ve just taken on a new job that I’m terrified about, I’m
photographing Manolo Blahnik’s new book. They’re just about to deliver a whole
lot of shoes, I’m bit terrified!
G: Why are you terrified?
M: Just because I’m terrified about being
stuck in studio photographing shoes.
G: But do you like shoes?
M: Not really. But that’s ok. Well, I do
like shoes, I love the structure of shoes, but, I mean, I have two pair of
shoes and both of them are in my office. So I’m not like a shoe connoisseur. I
can appreciate them but I can only wear flat shoes anyway…
Image sources:
First: click on it to see the source.
Second and third: my personal archive.
Playing cards with Matilda Temperley (Portuguese version)
Desde que
me mudei pra Londres, na verdade, desde meados do ano passado, eu passei a ter
um verdadeiro fascínio por pessoas que transitam entre duas carreiras
profissionais ou aquelas que resolveram mudar radicalmente de área. Quem
acompanha o Gato sabe que gosto de coisas que inspiram - e a palavra ‘coisa’ em
si é ótima por poder encaixar um mundo de sentidos dentro dela. E inspiração
pode vir de tantos lugares e de tantas ‘coisas’, certo? Mas o que me fascina
mesmo são aqueles momentos em que a gente se vê inspirado por alguém. Não
precisa ser alguém famoso ou distante (o ícone). Estou falando de pessoas
reais, daquelas que a gente pode sentar junto numa mesa de bar, num café, ou
trocar mensagens virtuais sem lá muitos pudores.
Blogs há
centenas de milhares, a gente sabe bem disso e há blogs de todos os tipos,
fato. Muita gente lê blogs à procura de informação, há quem pouco se importe
com a opinião alheia (mito!). Eu não sou dessas. Eu procuro blogs que possam me
inspirar de alguma forma, no meu vestir-se, no meu olhar sobre uma exposição,
sobre uma obra de arte, sobre um livro, um objeto e por aí vai. Engana-se
demais quem pensa que essas plataformas possam passar mera informação descolada
de opinião pessoal, todo blog é escrito em primeiro pessoa, mesmo quando são
várias escrevendo num mesmo site.
Certo dia,
enquanto divagava sobre pessoas inspiradoras ao meu redor, me dei conta de que
tenho a sorte de conhecer várias figuras encantadoras, bem próximas, bem reais.
Resolvi, então, entrevistá-las (me sentindo a repórter...)! E, não pra minha
surpresa, todas as pessoas com quem comentei sobre o desejo de gravar um
bate-papo e postar no meu blog (leia-se entrevistar, claro) foram super
receptivas e generosas! Sabem aquele ditado ‘amigos, amigos, negócios à parte’?
Não funciona bem assim, viva!!
Esse é o
contexto por trás das entrevistas que aparecerão por aqui vez em quando. Bem
vez em quando, adianto.
Às vezes a
gente fica tão fissurado (Freud) por algumas pessoas, especialmente nesse mundo
de blogueiras e blogs e autopromoção, que acaba esquecendo de olhar a nossa
volta, deixando passar a oportunidade de conhecer mais de perto fontes de
inspiração que podem (e querem) realmente te inspirar com afeto e diálogo de
verdade! Já me frustrei muito com gente que eu julgava inspiradora e que, no
final das contas, só conseguia enxergar o próprio espelho...
Foi assim
que cheguei até Matilda Temperley, fotógrafa inglesa radicada em Londres. Eu a
conheci no jantar de aniversário de uma grande amiga (também extremamente
inspiradora, vocês verão) e logo de cara me encantei com a conversa e com seu
tom de voz. Nascida e criada numa idílica fazenda de cidra em Somerset, no sudoeste
da Inglaterra, Matilda carrega consigo um ar quase bucólico nos traços
delicados do seu rosto e no jeito sereno de contar suas histórias (entre vícios
de linguagem e muitas risadas). Ela aceitou bater um papo comigo sobre como foi
seu processo de mudança da carreira acadêmica em Ciências Biológicas para a
fotografia, sobre suas inspirações nessa arte, seu trabalho com moda, a solidão de quem precisa ficar horas em frente ao computador, sobre sapatos e o difícil trabalho (isso é sério) de ficar trancada por dois meses em
estúdio fotografando as criações de Manolo Blahnik para um novo livro do designer.
Pra deixar
as coisas mais fáceis pra vocês, eu fiz duas versões da entrevista, essa em
português e uma em inglês, idioma da minha conversa com ela (e da minha vida
aqui) e que será publicada em seguida.
Espero que
sintam-se inspiradas!
Em
um pub em Camden
Gabi: Me
conte um pouco sobre em que carreira você estava antes de migrar pra
fotografia...
Matilda: Bom,
eu estudei Ciências [Sciences] provavelmente porque eu era boa nisso, foi algo
que veio com certa naturalidade pra mim. Mas eu sempre quis fazer coisas
criativas, estudar Artes... Quando eu estava na faculdade todo meu trabalho
artístico foi roubado de mim por uma figura bem esquisita (ele roubou todos os
meus trabalhos!) e então eu simplesmente parei de fazer qualquer coisa
relacionada a Artes e me concentrei em Ciências. E minha família, bastante
ligada ao meio acadêmico, sempre me dizia pra fazer algo nessa área, não havia
outro caminho senão fazer algo que fosse acadêmico.
G: Mas você
sempre carregou consigo esse desejo de trabalhar com artes, esse amor pelas
artes?
M: Sim,
bom, quando eu peguei meu primeiro diploma em Ciências eu tive nota máxima,
então quando você tem sucesso em algo você meio que continua naquilo, eu não
sabia bem ao certo o que eu queria fazer, então fui fazer o mestrado em Doenças
Tropicais [Tropical Diseases é uma área bem reconhecida em Ciências Biológicas
por aqui]... Eu acho essa área bem interessante, doenças tropicais é um tema
completamente fascinante e eu amava o processo de aprendizado e o conhecimento
que adquiria, mas o lado prático na verdade envolvia mais questões de
estatística e etc., então não era um trabalho tão divertido quanto outros
trabalhos poderiam ser. Eu era super jovem na época e queria fazer tudo, e sentir
tudo... Mas quando ia pro trabalho de campo eu estava constantemente sozinha na
África com um trabalho que era super específico, era bastante solitário. Bom,
eu tive algumas experiências ruins [num período de duas semanas de trabalho de
campo] e eu sempre tive comigo essa ideia de querer experimentar outras coisas.
Sempre que refletia sobre o que gostaria de fazer da vida eu acabava pensando
naquilo que eu gostaria de fazer quando criança e eu sempre amei fotografia.
Nunca achei que fosse uma carreira propriamente dita [risos] e que pudesse
ganhar dinheiro com isso... E eu sempre quis ser trapezista! Bom, quando eu
estava na África eu tive algumas experiências bem ruins, várias, na verdade, e
eu me perguntei ‘o que eu estou fazendo aqui?’. Então voltei pra Inglaterra, me
demiti do meu emprego em Uganda, estava com pressa... Mesmo lá eu sempre
carregava minha câmera comigo no trabalho, porque pensava poder contar uma
história mais rápido com a câmera do que com meu trabalho acadêmico, o que não
é de fato verdade, mas naquela época eu sentia que era assim, porque você tira
algumas fotos e mostra pra alguém e tudo parece mais compreensível, em Ciências
talvez você leve um ano fazendo a mesma coisa...
Então, sim,
eu acreditava que com a câmera eu poderia contar uma historia mais rápido,
definitivamente não é verdade, mas eu achava que era. Então eu resolvi
fotografar coisas, doenças tropicais, seria mais ou menos a mesma coisa, mas eu
estaria contando a história nos meus termos e mais rapidamente.
G: E o lado
prático da mudança, como foi?
M: Eu me
mudei de volta pra Londres pensando ‘ok, vou ser uma fotografa’, mas eu era uma
cientista e era algo que eu carreguei comigo por alguns anos. Então eu resolvi
acompanhar alguns fotógrafos [como um estagiário de laboratório faria] achando
que era muito fácil, pensando que fotografia fosse algo que eu pudesse aprender
muito facilmente. Eu tive a sorte de conseguir um auxílio do Arts Council
[conselho nacional de artes do Reino Unido] no início pra fazer uma grande
exposição sobre o circo, na época eu estava treinando o trapézio! Então comecei
a ser contratada por pessoas e ao invés de dizer ‘não’ eu dizia que ‘sim, eu
posso fazer isso’, o que me ajudou com a prática, pedi ajuda a alguns
profissionais e emprestei um espaço pra usar como estúdio, então eu estava
literalmente praticando. Eu me perguntava ‘em quem eu estou interessada’? E eu
sempre pensava em dançarinos. Eu amo dança, amo dançarinos, então [eu os
convidava] e eles vinham e dançavam no estúdio enquanto eu os fotografava. Eu basicamente
fotografava coisas que eu amava até que, eventualmente, as pessoas começaram a
me pagar pra fotografar coisas que eu amava [risos]. Eu pegava outros trabalhos
que apareciam também, mas hoje eu posso ser mais seletiva. Demorou alguns anos
ser como é hoje, eu era tão impaciente naquela época, eu não queria parar,
então eu já estava inserida numa carreira propriamente dita. Provavelmente eu
teria aprendido mais se tivesse observado outros profissionais por mais um ano,
mas eu era muito impaciente.
G: Ah, a
impaciência. Eu estou na academia há 7 anos e nunca trabalhei em outra área e,
hoje, quando me vejo experimentando outras coisas eu quero resultados rápidos e
tenho a sensação de que tenho passado a maior parte do meu tempo dentro de
bibliotecas e salas de leitura do que experimentando o mundo na prática
[exageros à parte]. Você sentia esse tipo de ansiedade quando resolveu mudar de
área?
M: Ah eu
tinha muita ansiedade e essa mudança foi o momento de maior pressão que eu
jamais havia sentido, desistir de um emprego no qual havia trabalhado a vida
toda pra fazer algo totalmente instável... Quando você passa tanto tempo na
academia e decide tentar algo diferente você sente uma certa pressão pela
idade, eu acho, então quando você decide mudar de área você espera estar, não
sei, 8 anos adiantada do tempo em que você realmente está. É bem difícil no
começo, eu era bem ingênua e achava que tudo aconteceria super rápido apenas se
trabalhasse bastante.
G: Há
quanto tempo você migrou de vez, então?
M: Em 2007.
Na verdade, em retrospectiva, não passei tanto tempo assim em Ciências. Eu fiz
a graduação na área e o mestrado e já fui direto pro meu emprego na África, eu
fui um tanto mimada nesse sentido, consegui emprego logo depois do mestrado,
não precisei subir os degraus, entende?
G: Entendo.
Bom, nas suas fotografias eu vejo o corpo humano bastante em evidência, em
todas as formas, tipos, estranhezas, belezas, etc.
M: Sim, eu
amo o circo e ao mesmo tempo em que me tornava fotógrafa eu estava praticando o
trapézio, eu quebrei vários ossos e várias partes do meu corpo, estava
definitivamente muito velha pra começar o trapézio! [risos] Mas eu sempre tive
vários amigos no circo, eu amo a fisicalidade disso, acho que [as imagens do
corpo] vem daí. Gosto de pessoas extraordinárias, de entender porquê elas fazem
o que fazem, vivem como vivem, de onde elas vem. É extraordinário ver as
modificações que as pessoas fazem no seu corpo... O comprometimento que as
pessoas tem aqui em Londres de mudar seus corpos completamente... Uma das
meninas que fotografei tatuou de preto seu globo ocular, (...) ela mudou tudo
em seu corpo... Entender a psicologia por trás disso é o que faz fotografia tão
interessante, porque as pessoas são como são... Como fotógrafa eu estou
interessada em pessoas únicas.
G: E qual a
sua relação com padrões de beleza? Digo esses parâmetros normativos, ocidentais
aos quais estamos expostos.
M: Bom, eu
adoraria ser uma fotógrafa documentarista, foi por isso que entrei pra essa
área, mas eu me dei conta de que nunca poderia ser uma, porque eu não quero
capturar as coisas como elas são, mas, sim, procurar a beleza nas coisas [clique aqui pra ver alguns dos seus retratos], o que
é relativamente diferente. Eu quero fotografar alguém em seu melhor... Uma das
coisas mais importantes pra mim quando fotografo alguém é que a pessoa se sinta
feliz com aquela imagem, porque é como se estivesse pegando um pedacinho dela,
sinto uma responsabilidade nisso... Então acho que não tenho um padrão de
beleza estipulado que eu consiga reconhecer, não tenho uma visão convencional
de beleza.
G: E como
as pessoas respondem às suas fotografias?
M: Elas
respondem super bem! Mas eu só fotografo alguém se consigo me conectar a essa
pessoa. Quando alguém chega no estúdio você tem cerca de 10 minutos pra
encontrar um ponto em comum com a pessoa, na verdade pra eu e a pessoa nos
avaliarmos, nos conhecermos, porque [retrato] é um tipo de fotografia bem
intenso... Nesse sentido, você pode perguntar qualquer coisa a pessoa quando
ela vem pra posar pra você, em ensaio de moda não é assim, isso só acontece nas
minhas sessões de retratos, os trabalhos de moda são completamente diferente.
Nos retratos as pessoas estão super abertas, elas te deixam, como fotógrafo,
ser tipo um voyeur.
G: Falando
nisso, eu sei que você também faz fotografias de moda e tem editoriais em várias
revistas [clique aqui pra ver alguns deles]. Qual a sua relação com a moda?
Matilda:
Minha irmã é uma designer de moda [Alice Temperley, da Temperley London, que
veste a Kate Middleton, por exemplo] então eu sempre estive próxima da área. Se
tenho interesse nisso? Não muito. Eu aprecio a beleza e posso apreciar roupas
de um modo geral, mas se isso me inspira ou se fico empolgada com essas coisas?
Não mesmo. A não ser que esteja fazendo um trabalho e daí, sim, eu me divirto,
eu me inspiro e me conecto. Mas eu sempre estou mal arrumada, não poderia ligar
muito pra moda nessa sentido. Eu não sou alguém que é inspirada por moda. Mas
se você me der uma modelo e algumas roupas eu ficarei inspirada a conseguir as
melhores imagens com aquilo, as mais interessantes.
G: E a sensibilidade
pra se fazer esse tipo de fotografia é completamente diferente, imagino...
M: A
diferença é que pra um retrato você quer se aproximar da psique da pessoa,
nossa isso soou muito pretencioso, mas você quer ver quem a pessoa é e seu
corpo, mas quando você está usando uma modelo você não quer ver quem ela é,
você quer usá-la como uma tela em branco pra fazer com quem ela seja quem você
quer que ela seja, você quer que ela represente outra coisa.
G: A sua
relação com as pessoas que você
fotografou, o projeto sobre o circo, os retratos, afetou ou afeta de alguma
forma a sua relação com seu próprio corpo?
M: Eu
gostaria de dizer que ‘sim, me inspirou a ficar super em forma’ e eu constantemente
me sinto inspirada a entrar em forma, mas eu sou muito boa em quebrar ossos!
[ela já quebrou um joelho, os pulsos, costelas e passou por algumas cirurgias
por conta disso] Mas eu adoraria voltar para as árvores [onde praticava o
trapézio], gostaria de poder dançar... Eu me tornei mais consciente com relação
a cuidar do meu corpo e por isso, acho, me sinto inspirada a observar pessoas
que tem uma fisicalidade incrível.
G: Eu
imagino que você deva estar sempre rodeada de pessoas, por conta do trabalho,
não? Meu maior problema com meu doutorado é que acabo ficando muito tempo
sozinha, porque é preciso, você precisa sentar e pensar e ler e escrever...
M: Mas,
sabe, meu trabalho não é tão sociável quanto se imagina. Eu não fotografo todos
os dias, então passo muito tempo sozinha no escritório, acho que as pessoas
subestimam quanto tempo se passa fazendo edição de imagens e essas coisas,
então você acaba passando muito tempo no computador.
G: Eu sinto
uma enorme dificuldade em socializar na universidade, porque, na minha área,
por exemplo, não temos laboratório ou pesquisa de campo e a própria política
universitária [doutorandos não cursam disciplinas] faz com que a gente se isole
demais e então quando você tenta socializar com colegas percebe que eles não
sabem ou não se interessam em dividir...
M: Sim! E
essa foi uma das razões pelas quais eu decidi abandonar a academia. Porque eu
imaginava que [com fotografia] seria mais social e teria resultados mais
rápidos, em alguns aspectos isso é verdade, mas em outros não. Como fotógrafa
sou meu próprio chefe, faço o que quero na hora que quero, trabalho por mais
tempo por ser freelancer, mas ganho duas vezes mais do que ganhava como
cientista... Mas não sou tão sociável, sabe. Como eu disse, meu trabalho
envolve muito mais o computador do que parece, então, não sei, talvez a grama
seja mesmo sempre mais verde do outro lado... Mas, sim, uma das razões pelas
quais deixei as Ciências era o trabalho muito solitário.
G: Entendo
bem. Por essa razão quis criar o blog, porque apesar de ainda estar no
computador eu posso realmente falar com as pessoas sobre coisas que elas possam
entender e se conectar. E assim elas podem se conectar comigo também.
M: Sim!
Sabe, é assim com fotografia também, apesar de eu estar trabalhando sozinha, as
pessoas podem realmente ter reações com relação aquilo. E com o que você faz
como doutoranda e o que eu fazia como cientista há apenas um número pequeno de
pessoas com quem se pode realmente ter uma conversa, por ser tão específico.
De volta ao escritório
G: [Pedi se
poderia fazer algumas fotos dela] Eu adoro fotografia em preto e branco, acho
que tem uma estética super trabalhada. Você acha que uma boa imagem depende
mais do equipamento - locação, iluminação, modelo, paisagem – ou no fotógrafo?
M: Uma imagem
excepcional depende do fotógrafo, mas uma imagem boa depende mais da câmera, eu
acho. [risos] Na verdade acho que seja meio a meio. Eu acabo de pegar um
trabalho novo que está me deixando meio apavorada, eu vou fotografar o novo
livro do Manolo Blahnik. Eles acabaram de me entregar uma quantidade enorme de
sapatos. Estou um pouco aterrorizada! [risos]
G: Porque?
M: Porque
terei que ficar fechada no estúdio fotografando sapatos!
G: Mas você
gosta de sapatos?
M: Não
muito. Na verdade, bem, eu gosto de sapatos, amo a estrutura deles, mas eu
tenho dois pares de sapatos e ambos estão no meu escritório. Então eu não sou
lá uma connaisseur de sapatos, eu os aprecio, mas só consigo usar sapatos sem
salto pra ser sincera... [risos]
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