Mesmo não
estando em Londres por esses dias, não consigo me desligar de alguns feeds e timelines da vida virtual e, talvez por acaso, talvez por querer
mesmo, eu reparei num quase ‘movimento’ que tem pipocado cada dia com mais
força entre muitas meninas-mulheres brasileiras: o desapego. Blogueiras em especial tem se mostrado bem entusiastas
da ideia que, aqui no texto no que eu quero mostrar, se trata exclusivamente do
desapego sartorial: vender e/ou doar roupas, acessórios, sapatos, etc., que estão
paradinhos no armário ou que simplesmente não fazem mais sentido ter.
Não vou
listar ninguém, porque não preciso, basta passearem pelo YouTube, Vimeo e
alguns blogs que vocês vão reparar. Eu comecei a prestar atenção quando a
blogueira Barbara Resende, que já passou por aqui numa das conversas do Gato,
fez um post enorme falando sobre como ela tinha tomado a decisão de se
desapegar e o que me deixou interessada foi as respostas de leitoras, a grande
maioria se identificando com isso e passando pelo mesmo problema. ‘Que
problema, Gabi?’, o problema do desapego.
Pra muita
gente desapegar é doloroso, é difícil, implica em escolhas e a possível
exclusão de lembranças que estão imprimidas em coisas, objetos que,
muitas vezes, não fazem mais parte do que a gente é ou quer, mas que já fizeram
e, por isso, a gente acha que não deveriam sair de perto da gente. Mas desapegar não é tão complicado assim. Eu
nunca fui muito apegada ao meu armário, não tanto quanto era por meus livros, e
só fui começar a acumular roupas quando já estava na faculdade. Eu saí do
interior de São Paulo pra morar no Rio, onde fiz a graduação e o mestrado, e
com isso passei a experimentar-ver mais coisas, a gostar de mais coisas, a
querer mais coisas e, dai, acumular. Sempre que voltava pra casa da minha mãe,
lá ia eu pro armário me livrar de coisas e minha mãe sempre preocupada ‘mas,
Gabriela, você não tem muita coisa, pra que dar isso, pra que dar aquilo?’, já
sabem que minha mãe é do tipo que não desapega! (Te amo, mãe.)
Mas abrir
mão daqueles objetos não me afetava, pelo contrário, eu gostava daquilo e me
dava prazer doar e saber que teria gente que ia gostar e usar e aproveitar e
dar vida a todas elas. Quando vim pra Londres eu passei a vender minhas coisas
numa conta que criei no Ebay logo que
cheguei. Uma amiga muito queria me ensinou a usar o site e eu não parei mais. E
vender se tornou parte do kit de ‘sobrevivência sartorial’ pra mim, porque o
dinheiro das vendas me rendia algo novo, então era uma troca. Com isso consegui
criar um meio de financiar a tal curadoria do meu armário – que tem acontecido
desde o início do ano passado e sobre a qual eu adorarei dividir mais por aqui
– já que eu queria peças que fossem atemporais e que tivessem uma assinatura
única. Foram-se Zaras, Toshops, Mangos, H&Ms, COSs, Kiplings (sim, várias,
a Kipling é incrivelmente barata aqui no UK!), entrou Fendi, Stella, Chloé,
Lanvin... Tudo com planejamento, economia e desapego, muito desapego!!! Explico: ao invés de ter cinco calças sociais de uma fast fashion, eu as vendia e no final conseguia uma graninha pra uma Stella e por aí vai. Hoje eu divido o armário com meu namorado (!!), espaço deixou de ser um problema e eu parei, aos poucos, de ter aquela crise do 'não tenho nada pra vestir, mas tem 3456 roupas no meu armário'. A curadoria é um processo lento e que precisa ser planejado e está longe de ser finita, ela é um continuum. E que fique claro: eu não deixei de comprar em lojas estilo fast fashion, eu deixei de acumular, o que é diferente, e passei a investir em coisas que tem uma durabilidade e atemporalidade que, pra mim, são primordiais hoje.
Não, não, não
estou me gabando, eu não vivo para o Ebay e muito menos do dinheiro do Ebay (e
não estou ganhando nada pra falar dele aqui), mas ele se tornou um grande
parceiro na hora de juntar uma graninha e me ensinou muito sobre como negociar.
(Ok, o correio inglês facilita muito a nossa vida, já que é super eficiente e
barato!) Estou dizendo tuuuudo isso só pra mostrar um outro lado do desapego, o
lado da curadoria! O lado que te faz não só pensar, planejar bem antes de sair
comprando (o que a gente ganha não tem como controlar mesmo), mas acima de tudo
te ensina um tanto mais sobre si mesma, sobre o que você realmente quer, o que
usa, o que gosta, o que deseja. A Jana Rosa, que tem lojinha no site brasileiro
Enjoei, fala bastante sobre a
dificuldade de desapegar, e também sobre como ela descobriu, através de um
desafio que impôs a si mesma, que havia muita coisa parada no armário e que ela
mal lembrava que tinha.
Essa sensação
da coisa ‘parada no armário’ é o que me causa mais angústia e o que, desde bem
novinha, lá no comecinho da faculdade, me fazia desapegar. Se doar não for uma opção,
faça um trato consigo mesma e gerencie seus gostos, suas escolhas. Venda, faça
um bazar com as amigas, eu já fiz aqui em Londres e foi bem bacana! Mas não deixe
os medinhos bobos te segurarem e te fazerem desperdiçar energia, espaço e
dinheiro em coisas que não fazem mais parte da sua vida. E me contem se já passaram
por isso ou pretendem desapegar em breve!