1 April 2014

The Vogue Festival 2014, part I: What I heard. (Portuguese)



Nesse ultimo final de semana, participei da terceira edição do Vogue Festival, que esse ano foi desenvolvido em parceria com a Harrods. Elaborei 3 posts específicos sobre isso e os colocarei no ar no correr dessa semana - esse primeiro mais textual, o segundo com imagens e o terceiro um vídeo! O evento é uma ótima oportunidade pra quem tem interesse, é entusiasta ou profissional da área de moda e tem vontade (ou sonho) de ouvir alguns dos nomes mais conhecidos e bem sucedidos da área, que participam de conversas guiadas pelos editores da revista inglesa. Além das falas e entrevistas, o evento oferece algumas outras coisinhas interessantes, entre elas um Prosecco bar, um stand de maquiagem da Burberry com maquiadores da marca, um stand da Nails Inc. e da Kerastase, além de outras coisas.

Eu encarei esse final de semana como um workshop, uma experimentação, ouvi com carinho tudo que disseram nas falas que escolhi – foram 5 sessões no total! (eu sei, super nerd). Anotei tudo, fiz contatos bacanas e conheci gente legal. Vi coisas que achei bem bobas e chatas – foi a primeira vez que eu vi pessoas olhando umas as outras de cima a baixo sem o menor pudor e, muitas vezes, com cara de desdém. ‘Ah, mas isso acontece em qualquer lugar, Gabi!’, você me diz, claro que acontece, mas não de forma tão escrachada e socialmente aceitável. E, convenhamos, que coisa feia, né? Também vi muita, MUITA gente fazendo muito esforço pra a-parecer stylish, pra montar o que pra mim pareciam personagens e caricaturas. Estilo eu não julgo, mas se me forçam a encarar algo que acho esquisito, como não ‘avaliar’?
Mas sabe o que achei mais bacana? Seja você da área da moda ou não, se você tem um mínimo de sensibilidade, você iria adorar as falas e aprender algo com elas, porque quase todas apontaram pra uma mesma direção, quase um pedido: menos edição, mais sensibilidade. De Louise Wilson, da famosa Central Saint Martins, passando por Amanda Harlech musa do Lagerfeld e consultora criativa da Chanel e da Fendi, a Alexa Chung, Phoebe Philo e Manolo Blahnik, todos pareciam cansados de tantas ‘edições’ e formas ‘pré-fabricadas’. Há um contínuo no discurso de todos esses profissionais que são, de formas diferentes, muito bem sucedidos em suas áreas, e esse contínuo é vontade de ver mais essência e menos excesso exterior em quem trabalha na área ou está chegando no mercado agora. Sensibilidade e fator humano são alguns dos temas presentes na minha tese de doutorado e eu me utilizo disso quando dou aulas, acreditem, faz toda diferença.

A moda é uma indústria de contradições extremas, um lugar cheio de buracos, vazios, mas também cheio de beleza, sensibilidade e arte. Eu vi uma grande lacuna entre o que os ‘grandes nomes’ diziam em suas falas e o que o público perguntava e mostrava em seus ‘estilos’. Enquanto Lucinda Chambers – diretora de moda da Vogue britânica desde 1980 – declara que o estilo (como conceito) é  anti-fashion, porque ele nos afasta do mainstream ou lugar comum que é justamente o que a moda cria, 80% da plateia vestia peças da nova coleção da Zara que, num nível bem superficial, é praticamente um copy/paste das últimas coleções da Céline e Chloé. Phoebe Philo, designer à frente da Céline, cujos traços praticamente reinventaram o cool nesse universo doido, diz que suas peças (que são caríssimas e lindíssimas) são investimentos e não foram feitas pra serem consumidas compulsivamente. Pra ela, o nome da casa francesa tem que ser mais forte que o apelo comercial, a boutique londrina, por exemplo, não possui NADA na vitrine, mas será que quem compra uma Céline tem consciência disso? Philo diz que suas criações são feitas pra serem usadas por muitos e muitos anos e ela não está sendo auto-apologética, isso é verdade e eu falei sobre isso quando conversamos (eu e você) sobre o effortless, isso se chama investimento, daí o conceito de ‘investment  piece’ ou peça investimento. Existe muito a ser repensado no universo da moda e muita da beleza artística acaba sendo restringida pelo lado comercial, um designer nem sempre é dono da empresa que coloca suas criações no mercado e isso, muitas vezes, faz da criação mera mercadoria. E daí o consumismo, o vazio e as contradições. Minha área também é cheia de contradições e sempre esperam que eu ‘me explique’ quando digo ‘sou medievalista e estudo gênero e materialidades de séculos atrás’. Pra muita gente isso não faz sentido e não precisa fazer, cabe a mim saber onde estou e estar confortável aqui. O mesmo vale pra toda e qualquer área.

Existem muitas e muitas outras coisas que ouvi e vou dividir com vocês, mas em doses homeopáticas, pra gente absorver as coisas boas pra valer. Mas escolhi algumas frases que achei extremamente inspiradoras e acho que podem te inspirar também!

Style is self-expression and to be able to express that you have to have a self. Know yourself, know who you are. (…) There isn’t this code of how we have to dress!’ Lucinda Chambers
‘Estilo é uma auto-expressão e pra você poder se expressar assim é preciso ter um eu ou identidade. Conheça a si mesmo, saiba quem você é. (...) Não existe esse código do como a gente deve se vestir’

Phoebe Philo. A rare public appearance.

‘I find mediocrity hard. I find that whole area difficult. I'm a very passionate person; I care very much about what I do. I believe I give it a lot, so it's gotta be good, otherwise what's the point?Phoebe Philo
‘Eu acho a mediocridade algo difícil. Toda essa área é complicada. Eu sou uma pessoa muito passional e me importo muito com isso. Eu acredito que me doo muito nisso, então o que faço tem que ser bom senão qual o sentido de se fazer?’

‘I don’t think about trends, I think about narratives, stories, that’s what designers do. My clothes are like a library. I can pull out something from years ago and tell another story.’ Amanda Harlech

‘Eu não penso em tendências, penso em narrativas, histórias, é isso que os designers fazem. Minhas roupas são como uma biblioteca. Eu posso tirar algo de anos atrás e contar um outra história com ela’. Harlech é formada em English, o que equivaleria, grosso modo, ao curso de Letras Inglês e sua perspectiva é inspiradora! Aliás, falarei mais sobre isso, mas aqui fora, existe um enorme interesse em pessoas com esse tipo de formação pra trabalhar em revistas da área como a própria Vogue. Lisa Armstrong é a maior entusiasta disso.

Alexandra Shulman to Valentino Garavani
‘A: If you haven’t chosen fashion, what would you have chosen?
V: Fashion.’
Alexandra Shulman para Valentino Garavani
‘A: Se você não tivesse escolhido moda, o que teria escolhido fazer?
V: Moda.’

‘Believe in what you are and appreciate what life gives you, be happy!' Valentino Garavani
‘Acredite em quem você é e aprecie aquilo que a vida te dá, seja feliz!’


A happy Gabriela, with a very 'discrete' gift bag.

All images from my personal archive.

1 comment:

  1. Cristina Brummer5 April 2014 at 23:53

    Gabi, que delicia ler um pedacinho da nossa conversa de hoje aqui no Gato. Foi muito bom te conhecer e perceber que o Gato é inteirinho a Gabi, verdadeira e real. Espero que tenha sido o primeiro de muitos cafés :) Beijobeijo musa! (haha não podia faltar)

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